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México: Um gigante do setor agropecuário decidido a fechar hiatos sociais no campo

VV
O Secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México, Víctor Villalobos, falou aos membros do Conselho Consultivo de Segurança Alimentar das Américas do IICA e a convidados especiais, entre os quais o Nobel de Economia Michael Kremer.

São José, 15 de março de 2021 (IICA) – A uma audiência de especialistas em temas agropecuários convocados pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), entre os quais o Nobel de Economia de 2019 Michael Kremer, o Secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México, Víctor Villalobos, apresentou um amplo panorama da situação produtiva e social do país, décimo quarto produtor mundial de alimentos e oitavo maior exportador global.

Na conferência magistral organizada pelo Conselho Consultivo de Segurança Alimentar das Américas do IICA, que teve a duração de mais de duas horas, Villalobos – respeitado agrônomo com doutorado pela Universidade de Calgary, que na sua trajetória promoveu a preparação de jovens profissionais em ciências agrícolas – sustentou que “produtividade, sustentabilidade e inclusão” são os pilares sobre que se apoiam as políticas públicas para o setor agrícola do México e mostrou preocupações com “o rastro hídrico” na produção de alimentos.

Villalobos afirmou que o México deve ser ouvido na Cúpula Mundial dos Sistemas Agroalimentares da ONU, que se realizará no final de setembro. “Queremos compartilhá-la com os nossos países irmãos da América Latina e do Caribe e com o IICA”, disse, ao expressar o seu apoio à iniciativa de Manuel Otero (Diretor Geral do IICA) de fazer da próxima JIA (Junta Interamericana de Agricultura) “uma caixa de ressonância para levar à cúpula as vozes da agricultura hemisférica, com uma participação do tamanho do seu papel estratégico nos sistemas alimentares”.

A reunião da JIA, órgão máximo de governo do IICA, será realizada em 1º e 2 de setembro e convocará os Ministros e Secretários de Agricultura das Américas, abrindo um grande espaço de coordenação e convergência para a cúpula global.

“Preocupa-nos que a agricultura, que é a base dos sistemas alimentares, não tenha um papel protagônico nessa cúpula. Sem alimentos não podemos perceber ou não podemos conseguir tudo o mais, embora reconheçamos a importância do tratamento dos temas ambientais, da saúde e da nutrição. Não podemos aceitar que eles se convertam nos temas absolutos do comércio global agroalimentar ou que, em seu nome, se castigue ainda mais o pequeno produtor”, destacou Villalobos, que também foi Diretor Geral do IICA entre 2010 e 2018.

“Tampouco podemos permitir que, para atender às necessidades de grupos de consumidores de alto poder aquisitivo, esqueçamos de garantir ao milhões de pessoas mais pobres o acesso aos alimentos”, acrescentou.

Na mesma linha, o Secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México destacou que “o futuro dos sistemas agroalimentares é ainda incerto, mas sabemos que devemos tomar medidas para não continuarmos marginalizando milhões de produtores e pequenos produtores na pobreza”.

Afirmou também que, no México, “somos sempre a favor de que o conhecimento científico seja a base do futuro da agricultura, desde que contribua para reduzir e não para alargar os hiatos hoje observados na produtividade entre os diversos tipos de produtores, entre regiões e inclusive entre países. Esta será a posição do México na Cúpula”.

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Além do Nobel Kremer, participaram da reunião o Embaixador do México junto à FAO, Miguel García-Winder, também ex-funcionário do IICA; a Senadora mexicana Beatriz Paredes, Embaixadora da Boa Vontade do IICA; o Diretor Geral do CATIE (Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino), Muhammade Ibrahim; e o Diretor Geral Adjunto e Representante da FAO para a América Latina e o Caribe, Julio Berdegué, entre outros.

Além do Nobel Kremer, participaram da reunião o Embaixador do México junto à FAO, Miguel García-Winder, também ex-funcionário do IICA; a Senadora mexicana Beatriz Paredes, Embaixadora da Boa Vontade do IICA; o Diretor Geral do CATIE (Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino), Muhammade Ibrahim; e o Diretor Geral Adjunto e Representante da FAO para a América Latina e o Caribe, Julio Berdegué, entre outros.

 

RADIOGRAFIA DE UMA POTÊNCIA AGROALIMENTAR

Ante os membros do Conselho Consultivo de Segurança Alimentar das Américas do IICA, integrado por peritos de 10 países com o objetivo de monitorar o impacto do novo coronavírus na segurança alimentar para encaminhar análises e recomendações úteis à tomada de decisões em diversas instâncias dos setores público e privado, Villalobos traçou um panorama detalhado da situação do campo mexicano.

Começou enfatizando que “a agricultura e o setor agroalimentar do México enfrentam mais ou menos os mesmos desafios que os demais países: produzir de maneira mais eficiente, integrar mais as cadeias produtivas nacionais para melhor conectá-las com as globais; melhorar a competitividade; e produzir de modo mais sustentável os alimentos para, assim, garantir a segurança alimentar de toda a população”.

Villalobos lembrou que as políticas públicas para fortalecer o campo mexicano estão, no governo do Presidente Andrés Manuel López Obrador, “associadas ao projeto de nação que estamos promovendo”, sendo, assim, “parte integrante da transformação que empreendemos” desde a chegada ao poder da atual administração.

“Queremos um país economicamente mais equilibrado e socialmente muito mais justo. Reconhecemos a enorme importância do setor agroalimentar para a economia nacional e para o bem-estar de milhões de pessoas, e atuamos, em consequência, sabendo que os atores participantes não têm as mesmas condições e que, portanto, precisamos aplicar políticas diferenciadas”, disse.

Atualmente, no México, cerca de 24,6 milhões de hectares são inteiramente dedicados à agricultura, enquanto outros 5 milhões de hectares não são utilizados ou estão de alguma forma abandonados, mas têm grande potencial de ser incorporados às atividades agrícolas. Cerca de 109 mil hectares são ocupados pela criação de gado, e existe uma costa de 11 mil quilômetros aberta à pesca, a que se somam as águas interiores, vivendo-se no momento um desenvolvimento crescente da aquicultura, detalhou o Secretário.

No total, o México – um dos países catalogados como centros de origem e importante centro de domesticação de espécies agrícolas, animais e de microrganismos – reúne o trabalho de 5,4 milhões de agricultores, 880 mil pecuaristas e 145 mil pescadores e aquicultores.

“Sentimo-nos muito orgulhosos de ser o centro de origem e domesticação do milho, que foi uma grande contribuição para o restante da humanidade, mas não se deve esquecer que, no território nacional, os nossos antepassados domesticaram muitas espécies, como pimenta, cacau, baunilha, amaranto, tomate, abóbora, feijão e abacate, que hoje desempenham um papel muito importante no contexto mundial”, lembrou Villalobos.

No ano passado, apesar da pandemia ocasionada pela propagação do novo coronavírus, o país registrou uma produção de alimentos de 290,2 milhões de toneladas, “número recorde na produção que se deve creditar aos produtores”.

As exportações agroalimentares de 2020 alcançaram os US$39,5 bilhões de dólares, com mercados em mais de uma centena de nações.

“Temos, então, muito orgulho de sermos o décimo quarto produtor mundial de alimentos e o oitavo país exportador. Os 290,1 milhões de toneladas de alimentos têm uma característica especial. A nossa agricultura é uma agricultura diversificada, a nossa produção tem partes agrícolas, uma diversificação em hortaliças, em diferentes espécies. Isso ocorre também na atividade agropecuária e nas atividades pesqueira e aquícola. No ano passado, as exportações agroalimentares cresceram 5,2% e as importações caíram 5,47%”, disse Villalobos.

A balança comercial agropecuária do México registrou, por sua vez, um saldo favorável de US$12,3 bilhões, uma expansão de 40% em comparação com 2019, com produtos como cerveja, abacate, tomate, animais, tequila e frutas vermelhas liderando as vendas externas e concentrando 64% de toda a exportação agropecuária e agroindustrial do país.

Mirtilos, morangos, framboesas, amoras, nozes, pimentas doces e pimentas verdes são outros objetos de produção destacada, da mesma forma que ovos, carnes de ave e bovina, pescado, camarão e polvo.

 

PRODUTIVIDADE, SUSTENTABILIDADE E INCLUSÃO

Villalobos ressalvou, porém, que apesar da força do campo mexicano e do seu potencial de enorme projeção, “toda essa beleza, toda essa riqueza não se reflete na qualidade de vida dos camponeses, dos pequenos produtores e dos indígenas do nosso território rural”, lembrando que “existe uma dívida que vem sendo adiada e está pendente com os mais pobres, que são os camponeses e os indígenas”. 55,3% da população rural vive na pobreza e 16,4% desse universo padece de pobreza extrema.

“E não temos dúvida de que precisamos saldar essa dívida. O governo do Presidente López Obrador tem como visão e objetivo fundamental resgatar o campo da pobreza, resgatar o campo e torná-lo um motor importante do crescimento do país. Neste sentido, estamos empenhados, precisamente, em fazer uma agricultura mais equitativa, uma agricultura mais voltada para resgatar a pobreza e, sobretudo, resgatar o campo dessa situação que vem sendo adiada por tantos anos”.

Villalobos vinculou o êxito dessa tarefa à construção de uma sociedade mais equitativa, o que ajudaria a mitigar fenômenos como migração, insegurança e violência.

Ele também detalhou as diferenças de produtividade na geografia mexicana, com regiões que concentraram o desenvolvimento científico-tecnológico, o investimento, o seguro e a mecanização e que se beneficiaram de uma revolução agrícola que incluiu irrigação, crescimento, obras de infraestrutura e o desenvolvimento de uma agricultura empresarial com pleno acesso ao conhecimento, à tecnologia e ao crédito.

No entanto, em outra parte, que vai do centro para o sul e para o sudeste do México, 85% das unidades de produção rural são de agricultura familiar sem acesso aos mercados, quase de subsistência.

“Fomos muito bem-sucedidos no desenvolvimento da agricultura no centro-norte do país e agora, quando estamos falando de saldar as contas com a sociedade rural, temos que nos voltar para o sul, onde temos a pobreza, mas onde também está o futuro da agricultura a ser complementado pela outra metade do território nacional”, disse o Secretário.

“Temos uma nova visão na agricultura mexicana, que se baseia fundamentalmente em três pilares, em três eixos. Um deles é a necessidade de sermos muito mais eficientes na produtividade. O segundo pilar tem a ver com sustentabilidade. Estamos particularmente preocupados com a gestão do solo e da água. O terceiro pilar é a inclusão. A inclusão é um tema muito importante para nós, porque reconhecemos que todos os agricultores são importantes, mas têm necessidades diferentes. Esses três pilares são básicos e fundamentais para a autossuficiência alimentar – isto é, para reduzir progressivamente a tendência à importação dos produtos básicos para a alimentação da sociedade mexicana”, explicou.

Por último, mencionou a preocupação pela busca de uma orientação para o desenvolvimento da agricultura “que não seja a custo do futuro”.

Neste aspecto, ressaltou que “necessitamos produzir mais toneladas, mas também mais toneladas com menos água. Preocupa-nos o tema do rastro hídrico. Preocupa-nos muito que estejamos sendo um dos países mais afetados pelos imponderáveis climatológicos. Especificamente, grande parte da agricultura desenvolvida no norte do país e no centro-norte depende fundamentalmente da chuva, que é cada vez mais errática. Padecemos de temperaturas extremas e de geadas em tempos que não foram historicamente antecipados”, complementou.

Neste sentido, explicou, o rastro hídrico é um indicativo de quanto estamos investindo em água para produzir alimentos.

E concluiu: “Um hambúrguer requer, segundo os dados, 2.400 litros de água; para se produzir uma maçã são necessários 70 litros de água; para dois ovos, 400 litros de água. O que pensamos claramente é que não podemos prescindir desses produtos, mas, com o uso das tecnologias apropriadas, poderemos reduzir o uso de água sem sacrificar a sua qualidade e muito menos as suas condições nutritivas ou de aceitação pelos consumidores. Temos que pensar como vamos reverter ou reduzir o impacto do rastro hídrico sem sacrificar a produção. Aqui o papel da tecnologia desempenha obviamente um papel muito importante”.

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