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Painel do CAF em Assembleia Geral da ONU com participação do IICA adverte que insegurança alimentar na América Latina e no Caribe requer políticas de Estado e ação coordenada

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María Inés Castillo, Ministra de Desenvolvimento e Inclusão do Panamá, Manuel Otero, Diretor Geral do IICA, e David Beasley, Diretor Executivo do Programa Mundial de Alimentos, participaram do painel de alto nível do CAF com o Presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, e Qu Dongyu, Diretor Geral da FAO.

São José, 22 de setembro de 2022 (IICA) – Líderes globais, chefes de Estado e altas personalidades concordaram quanto à necessidade de se estabelecer políticas de Estado e favorecer investimentos maiores em ciência e tecnologia aplicadas à agricultura para promover a segurança alimentar na América Latina e no Caribe no atual contexto de crise global.

As coincidências se manifestaram em um painel de alto nível do qual o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) participou. O evento aconteceu no âmbito da 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, organizado pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), com o título de “Segurança Alimentar na América Latina e no Caribe: Desafios, estratégias e ações prioritárias”.

Em duas jornadas, no espaço multilateral mais importante do mundo, o foco esteve na necessidade de se fortalecer o papel da região como ator fundamental na discussão dos principais desafios e oportunidades globais, com vistas ao cumprimento da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável.

O Presidente da República Cooperativa da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, foi um dos palestrantes do encontro, do qual participaram David Beasley, Diretor Executivo do Programa Mundial de Alimentos; María Inés Castillo, Ministra de Desenvolvimento e Inclusão do Panamá; Qu Dongyu, Diretor Geral da FAO; e Manuel Otero, Diretor Geral do IICA.

Os palestrantes anfitriões foram Sergio Díaz-Granados, Presidente Executivo do CAF; e Christian Asinelli, Vice-Presidente Corporativo da entidade multilateral.

“A situação de segurança alimentar na região tem se deteriorado nesses últimos cinco anos. Na América Latina e no Caribe, temos 13 milhões de pessoas a mais com desnutrição, a maioria mulheres e crianças. Isso tem impacto direto nos resultados educativos”, advertiu Irfaan Ali.

O Chefe de Estado considerou que o tema não ocupa a relevância que merece na agenda pública: “Estamos escondendo essa realidade ou não temos a vontade política de mostrar essas informações à população? Se essa tendência continuar, a região não poderá cumprir o segundo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que é eliminar a fome até 2030”.

Irfaan Ali também vinculou o aumento da fome e a desnutrição ao recrudescimento dos problemas de insegurança. “A população”, ponderou, “está cada vez mais intranquila. Nós, os governos, devemos tomar medidas urgentes para proteger os mais vulneráveis dos aumentos de preços dos alimentos e favorecer a resiliência da agricultura”.

“A insegurança alimentar paira sobre nós e, se não atuarmos agora, será um desastre para todos nós”, concluiu.

A necessidade de atuar com urgência

Díaz-Granados e Beasley concordaram com o presidente guianense quanto à urgência de uma ação coordenada para atender à situação particular da América Latina e do Caribe, onde a crise alimentar poderá agravar-se pela escassez de fertilizantes gerada pelo conflito bélico no Leste Europeu. A região importa 85% dos fertilizantes que utiliza em sua produção agrícola.

“Navegamos um contexto de emergências e conflitos, o que se soma ao efeito da mudança do clima, com impacto sobre a produção de alimentos, as cadeias de abastecimento e os preços. Isso chega ao coração das sociedades, aumentando as lacunas. Essa tarefa requer urgência e trabalho concertado com nossos parceiros. É um desafio que exige que se trabalhe com os melhores”, disse o Presidente Executivo do CAF.

Díaz-Granados esclareceu que, em 2020, a insegurança alimentar moderada ou grave afetou quase 41% da população da América Latina e do Caribe – ou seja, quase 270 milhões de pessoas, muito acima da média mundial que foi de 30,4%.

Beasley disse que a crise alimentar já existia antes da invasão russa na Ucrânia, mas que as interrupções nas cadeias de suprimentos por causa do conflito bélico e o agravamento do cenário serviram para chamar a atenção do mundo.

“Hoje, todo o mundo está vendo a crise de insegurança alimentar, e a situação é grave na América Latina e no Caribe. Muitas famílias estão migrando dos países mais afetados. Os que migram são gente como vocês ou como eu, que perderam toda esperança e que não partiriam se tivessem alimento. A segurança alimentar não vai resolver todos os problemas de migração, mas é necessário enfrentá-la para trazer esperança às pessoas”, disse Beasley.

A Ministra de Desenvolvimento e Inclusão do Panamá relatou que seu governo está desenvolvendo uma estratégia de luta contra a insegurança alimentar, com eixo no desenvolvimento territorial e comunitário

“Estamos focados na agricultura familiar. Quando falamos dos que passam fome, estamos falando de mulheres, crianças e povos indígenas”, disse María Cristina Castilo, que afirmou que em seu país a proporção de pessoas com fome diminuiu de 7% para 5% e que atualmente são cerca de 200 mil pessoas.

Modernização por meio de ciência e tecnologia

Asinelli advertiu que a insegurança alimentar na América Latina e no Caribe “piorou e continuará piorando se não atuarmos imediatamente”.

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O Diretor Geral do IICA observou que a crise global expõe a América Latina e o Caribe aos olhos do mundo.

“O contexto global”, acrescentou, afetou a produção e as cadeias de abastecimento. Isso dá um roteiro aos bancos de desenvolvimento multilaterais. Nossos países não podem lutar contra isso sozinhos”.

O Diretor Geral do IICA observou que a crise global expõe a América Latina e o Caribe aos olhos do mundo.

“Somos responsáveis”, observou, por 13% da produção mundial de alimentos e somos a maior região exportadora líquida de alimentos do mundo, e por isso somos fundamentais para a segurança alimentar”.

Otero observou que, diante desses dados, é inaceitável que 41% da população da região sofra de insegurança alimentar.

“Alguma coisa não estamos fazendo bem. Se temos excedentes de alimentos, por que temos insegurança alimentar? A agricultura deve produzir, mas deve ser acompanhada por estabilidade macroeconômica e acessibilidade aos alimentos para todos”, observou.

Neste sentido, concentrou-se na necessidade de se aumentar o comércio intrarregional e de pôr em evidência políticas de Estado que assegurem a viabilidade dos agricultores familiares, que são os que garantem os alimentos para o consumo interno dos países.

Otero acrescentou que é imperativa a construção de uma nova agricultura, mais intensiva em conhecimentos, que priorize a ciência e a inovação.

“A diferença de produção”, assinalou, “entre os agricultores mais avançados e os mais atrasados está na razão de 10 a 1. Isso não pode continuar acontecendo. É necessário fazer-se um esforço modernizador em nossa agricultura”.

 

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